Há umas duas semanas, eu entrei em contato com uma organização/empresa que faz uma “ponte” entre autistas e o mercado de trabalho. Eles oferecem uma formação de 4 meses para o autista aprender habilidades úteis e depois o encaminham para uma vaga em uma empresa parceira ou até a deles mesmo. No e-mail, eu havia feito duas perguntas principais, que eram se alguém da minha área (letras) e da minha cidade (Rio de Janeiro) poderia participar. Daria para me responderem por e-mail, mas preferiram marcar uma chamada de vídeo para me explicar sobre o trabalho deles (o que me deixou bem nervosa, mas aceitei).
Eu fiquei dias com ansiedade acima do normal por conta disso, até que, eventualmente, chegou o dia. Eu praticamente não falei nada, mas ouvi atentamente e até anotei algumas coisas em um caderninho. Algo que me deixou triste foi que, no final, foi tudo para nada, já que não possuem projetos na minha cidade (ou fora de São Paulo) no momento. Acho que a vídeo chamada poderia ter sido evitada se tivessem me respondido por e-mail antes, mas fazer o que…a questão é que, durante a chamada, algumas coisas me entristeceram um pouco.
Primeiro que já introduzem o trabalho que fazem falando que trabalham com autistas com nível 1 de suporte, o que não faz sentido nenhum para mim. Não é mais fácil aprender sobre a pessoa individualmente ao invés de assumir algo só pelo nível de suporte??
Outra coisa foi o gigantesco foco deles na área de TI e exatas no geral. A explicação sobre o surgimento da empresa foi, em resumo, sobre a grande habilidade de memória e lógica que o filho do criador apresentava desde os 7 anos, fazendo com que o pai tivesse essa iniciativa. Essa parte achei muito legal, mas, ainda assim, percebi que aquele estereótipo do autista com pensamento puramente matemático guiava muito as ações dessa empresa.
Uma coisa que ainda não entendo é a associação da lógica à matemática, com o pensamento de que apenas áreas de exata apresentam lógica. No meu caso, eu era péssima em matemática e demais matérias de exatas na escola. Muitas coisas não faziam sentido para mim. Números, incógnitas, equações…isso sempre me pareceu muito abstrato. Talvez não as formas geométricas, mas de que servia isso se, no final, eu deveria traduzi-las em contas? Não existem números na natureza, mas existe quantidade. Inventamos os números para traduzi-la, como um símbolo que nos permitisse falar sobre ela e, assim, poder entender e decodificar fenômenos da natureza.
Os professores nos ensinavam formas de manipular os números, como as contas básicas, equações etc. Meu problema era não conseguir olhar para o quadro cheio de equações e visualizar o que aquilo significava no concreto, no mundo real. As contas no quadro, livro ou caderno sempre foram muito abstratas para mim. Até hoje eu uso os dedos para contas básicas e não confiro o troco. Algumas eu consegui entender, mas são poucas. A esmagadora maioria eu apenas tentei decorar e associar ao que o professor disse que significava, mas só porque eles disseram, não porque eu conseguia perceber. Fico me perguntando se o entendimento do que é lógico é algo fixo ou se varia de acordo com as diferentes mentes que existem.
Em uma época da minha vida, descobri que a escrita era meu ponto forte. Isso não foi surpreendente para mim, pois eu vejo muita lógica nas palavras (ao menos escritas). Eu passei a ver mais lógica ainda quando comecei a estudar linguística, que é a ciência que estuda a linguagem verbal humana. Reparem eu disse “estuda”, e não “dita como ela deve ser usada”. A linguística nada tem a ver com dizer o que está certo ou errado, mas sim em observar como ela funciona naturalmente e criar hipóteses. É científico. Até porque, perdoem-me os leigos teimosos, o “certo” é mera convenção, tal qual a escrita. Já se perguntou por que dizem “o certo é ‘para eu fazer’, e não ‘para mim fazer’”? A verdade é que os gramáticos apenas escolheram qual seria a forma que adotariam, pois, se pararem para ler textos bem antigos, não existia nenhuma convenção de como as palavras deveriam ser escritas e nem que normais gramaticais seguiriam. Sempre vejo pessoas usando o argumento de que o que a pessoa escreveu não seria aceita no ENEM, mas nem o que Camões ou qualquer escritor histórico renomado da nossa língua seria aprovado no ENEM. Uma mesma palavra podia aparecer escrita de forma diferente até no mesmo texto. Se esses textos antigos, sujos, rasgados, com uma grafia sem padrões e uma letra estranha podem ser lidos hoje de forma inteligível, seja nos livros didáticos, na internet ou em textos no geral, agradeçam aos profissionais da filologia. Poucas pessoas param para pensar sobre o enorme privilégio que é podermos ler, em pleno século XXI, a carta de Pero Vaz de Caminha sobre sua primeira impressão ao chegar ao que hoje conhecemos como Brasil, lá para 1500. O conhecimento ( nesse caso, o ocidental) advém de uma contribuição milenar de pessoas que vieram antes de nós, e, se temos acesso a isso, devemos agradecer, inclusive, às ciências que hoje são completamente desvalorizadas na sociedade. Voltando ao “para eu fazer”, não é estranho que a resposta leiga seja “porque ‘mim’ não conjuga verbo”, sendo que o verbo está no INFINITIVO? O que houve com “o certo é ‘entre mim e você’ ou ‘para mim’, pois a preposição exige o pronome oblíquo”? Bem, se em “para eu fazer” a regra da preposição exigir o uso do pronome oblíquo não vale, e muito menos a “explicação” de que “mim não conjuga verbo”, onde está a lógica? Você não vai achá-la nos livrinhos do professor Pasquale. No máximo, decorar (no pior dos casos, com algumas explicações absurdas e completamente inventadas). A resposta para entender é simples: história. Seguindo fatos históricos, a resposta correta seria, sem mais nem menos, “porque escolheram que fosse assim”. Quem escolheu? Os gramáticos, baseando-se na escrita literária portuguesa do século XIX (o que nem de longe pode ser exigido da FALA das pessoas, até porque essa já é uma questão muito mais complexa do que a escrita, com uma mudança extremamente mais fluida e frequente). Não é porque há uma suposta lógica nessas regras, pois elas surgiram não para dizer qual era o certo, mas sim porque precisava haver uma convenção que todos poderiam usar para escrever em língua portuguesa e evitar problemas de entendimento. Podem procurar dia e noite uma lógica perfeita para a nossa escrita, mas vão sempre chegar à conclusão de que a nossa forma de traduzir a língua em letras (ou, como são chamadas na minha área, grafemas) ou “regrinhas de certo e errado” é mera convenção, tanto quanto traduzir fenômenos da natureza em números e equações. Ver ou não lógica em cada um vai depender de como o seu cérebro funciona e, é claro, da competência do sistema educacional. Ainda não entendi a dos números, mas entendi a das letras.
Às vezes, as pessoas tentam justificar o motivo de eu ser uma autista que gosta da área de Letras e que tem dificuldade com as exatas com “é porque você estuda as regrinhas e blá blá blá”. Bem, já expliquei (de forma bem simplista e resumida) que nem essas tais regras possuem essa lógica com a qual tanto querem usar para explicar minha visão de mundo, e também que não é porque é de exatas que é tudo intuitivo e lógico. Eu posso lembrar de várias regras da escrita, mas também preciso ter a sensibilidade de saber que 1) é preciso usá-las com responsabilidade, pois até mesmo um texto acadêmico corre o risco de ser rejeitado/sofrer críticas por ter sido escrito de uma forma completamente pedante e inacessível (inclusive já ouvi histórias sobre a banca examinadora pedir para que o aluno mudasse isso) e 2) não existe o “certo” ou “errado” na linguística, não porque somos “cirandeiros de humanas”, mas porque a ciência não funciona dessa forma em área alguma. Assim como um biólogo que descobre uma variação genética em uma espécie não pode simplesmente decidir que não vai estudá-la porque acha feia, um linguista não pode usar seu juízo de valor (enormemente baseado em preconceito de classe, racial, de escolaridade etc) para decidir que vai ignorar alguma variação, pois achou feia e errada. A natureza não funciona assim, e é isso que a língua também é. A escrita é um recurso muito mais recente e que possui regras como forma de criar um padrão igual para todos (e que sofre alterações conscientes até hoje para facilitar e otimizar seu uso), ou seja, é algo tecnológico.
A área de Letras pode parecer sem lógica para muitas pessoas, assim como eu tenho dificuldade de perceber a de outras áreas. Para mim, ela faz mais sentido, mesmo eu não tendo entendido tudo sem esforço e de primeira. Eu me considero uma pessoa sensível para o pensamento crítico e questionador e nem por isso deixo de ser autista. Eu tenho uma experiência de vida muito mais silenciosa e de observação do que o contrário, e isso contribuiu bastante, ou seja, meu autismo contribuiu para que eu me tornasse o que gostam de classificar hoje como “de humanas” (apesar de eu ter tido dificuldade em várias matérias de humanas na época da escola, me dando bem melhor com a produção de textos e reflexão sobre o uso da língua. Em literatura eu sou uma desgraça porque envolve também sentimentos e outras coisas ainda bem abstratas para mim). É estranha essa divisão tão ferrenha, já que os primeiros matemáticos, físicos e seja lá o que mais do mundo ocidental foram filósofos. Antes de haver equações matemáticas e leis da física, houve o pensamento crítico e sensível, a observação atenta, até que o que podia ser observado ou percebido passou a ser traduzido em linguagem/comunicação humana. Ainda há quem ache que os meus já quase 5 anos de faculdade se resumiram a aprender a por vírgulas em textos e decorar regras gramaticais. Não é assim que o conhecimento funciona. Essas coisas eu poderia aprender na internet ou num curso preparatório, mas eu escolhi a área de Letras pelo meu fascínio em querer compreender a tradução do mundo em língua portuguesa, não porque eu queria melhorar em redação. Já ouvi tanto que eu deveria ir para qualquer área, já que minha faculdade serviria para qualquer uma por ter português e escrita. Não é assim que funciona. Ninguém aprende português na escola. Nós o aprendemos com a vida em sociedade, seja ela uma vida autista ou não. A escola seria, supostamente, o local para pensar a nossa língua crítica e cientificamente (além de aprender a escrita e ter contato com as normas de prestígio), mas, infelizmente, tem sido apenas mais um local desvalorizado que produz, em massa, pessoas arrogantes com o próximo que vão apenas repetir o mantra sem lógica “mim não conjuga verbo”.
Quando criança, o meu silêncio costumava ser bem observador e questionador. Eu me perguntava coisas como “como conseguimos reconhecer as pessoas se não temos o nome escrito na testa?”, “por que o pensamento dessas pessoas na televisão é igual a elas falando, só que sem mexer a boca?”, “será que essa voz que os personagens dublados têm é a que eles teriam caso fossem daqui?”, “por que as outras crianças conseguem ficar encostando uma nas outras, menos eu?”, “será que uma pessoa mais velha que eu já pensou tudo que eu já pensei e muito mais?” entre muitas outras que não me recordo no momento. Infelizmente isso diminuiu bastante depois que eu fui pega pela cruel depressão. Por mais que eu me faça um questionamento de vez em quando, principalmente relacionado ao que estudo, não sinto mais energia para levar adiante e nem prazer em buscar respostas. Isso talvez seja uma das razões pelas quais não tenho conseguido evoluir na minha monografia. Só resta isso para eu me formar. Eu costumo receber cobranças para trabalhar com qualquer coisa, mas pensar em um dia precisar me dedicar horas e horas seguidas diariamente a algo somente pela questão financeira, ignorando o principal motivo de ter escolhido a minha área e aguentado quase 5 anos com tanto, mas tanto esforço no meio da minha pior época depressiva me deixa mais e mais desmotivada a tirar energia não sei de onde para escrever, pesquisar sobre isso e terminar o curso de uma vez por todas.
Eu não lembro mais o que é sentir os pequenos prazeres da vida, não importa quantas coisas boas possam acontecer agora. Na pré-adolescência e início da adolescência, eu costumava tentar me convencer de que minha tristeza vinha do fato de eu não ter o bem material X. Eu pensava coisas como “eu vou ficar feliz quando conseguir comprar isso, ganhar o jogo tal ou o vídeo game tal”. Quando eu conseguia algo assim, eu nunca ficava feliz de novo como eu pensava, então voltava a culpar a falta de outra coisa por isso. “Deve ser porque ainda não consegui aquele outro jogo”. Pensava coisas assim. Depois que eu percebi que nada que eu fizesse ou que bem material meus pais conseguissem me dar em alguma data comemorativa ajudaria, eu passei a mudar a mentalidade e tentar pensar o que faria a Alice antiga feliz, ainda que não fosse fazer a atual. Ao menos com esse pensamento eu consegui não perder toda oportunidade que passava por mim, e consegui insistir em não desistir. Foi assim que eu suportei a escola até o final, me submeti a ir para a faculdade fosse lá quantas dificuldades isso me trouxesse. Tudo em nome de uma suposta Alice que talvez um dia voltasse e fosse ficar feliz com essas coisas. O sentimento que eu mais temo sentir é o de arrependimento, talvez por todas as coisas impulsivas que eu fiz na infância (não que tenha parado completamente…) e que tanto me causaram broncas por não terem uma explicação aparente. Acho que sou muito mais retraída do que seria por causa disso. Um dos meus maiores medos é o de ser inadequada, incomodar as pessoas e não perceber, que pensem coisas erradas sobre mim porque eu não consegui me fazer entender ou por ter tido uma atitude que não se espera normalmente. Eu ainda prefiro me prejudicar do que correr algum risco de prejudicar alguém. Hoje sou uma adulta que se desculpa por tudo, fala muito pouco (eu não entendo isso de pensar antes de agir porque ninguém nunca diz o que seria o certo de pensar. Acabei tendo medo de agir), chora com muita facilidade. Eu não gosto disso, pois tenho medo que se ofendam com meu choro ou que me interpretem errado. Por mais que eu tenha sido e ainda seja uma boa observadora e questionadora, minha parte emocional não é tão madura, e, às vezes, tenho vergonha disso. Eu não quero que me vejam como criança por ter alguns comportamentos interpretados como infantis, mas também não suporto que me façam exigências que excedam o que posso fazer no momento, inclusive emocionalmente. Não adianta. Pode ser muito difícil para os outros entenderem por que choro em uma situação que não precisa disso, ou que fique muito abalada com algo que não parece ser tudo isso para quem está de fora, que tenha dezenas de pesadelos em uma noite só e passe o dia isolada e com medo de ser mal compreendida. É difícil para mim também. Eu também não tenho paciência comigo mesma, não aguento o efeito de coisas supostamente simples em mim, odeio voltar aos momentos em que eu sinto que eu nunca vou deixar de me sentir assim e nunca vai haver alguém que consiga me acolher e não criticar, por a culpa em mim, dizer que exagero. Eu odeio chorar, odeio pesadelos, odeio que o dia passe tão rápido e que não tenha havido um único momento em que eu me senti feliz como antes ou satisfeita comigo mesma, cumprido as milhões de exigências que me faço e odeio parecer exagerada ou até ingrata pelas coisas boas que eu tenho. Às vezes até odeio ter coisas boas, pois não sinto que mereço e muito menos que consigo aproveitá-las direito. Às vezes eu vou à terapia e não me sinto no direito de estar ali, pois deveria dar vez a quem tem problemas de verdade e que vá usufruir melhor. Odeio os “médios e baixos”, essa variação insuportável entre os momentos neutros e os ruins, entre os momentos em que eu consigo tirar energia dessa ideia de uma Alice um dia vai voltar e se sentir feliz com o que fez e os em que eu quero desistir de tudo, principalmente de mim e morrer. Quem quer conviver com uma pessoa assim? Nem eu gosto de conviver comigo, mas eu não tenho escolha. Quando esses problemas estavam no início, eu ouvia que não devia me preocupar com essas coisas porque não eram problemas de verdade, problemas de adultos. Agora eu sou adulta, mas ainda me preocupo com essas coisas. Costumo me considerar uma adulta fajuta, assim como me considerei uma adolescente fajuta. Eu me cobro muito e não consigo fazer nada por mim mesma pensando no que eu sou agora, ao invés de tentar pensar no que uma eu do futuro, que seria a eu do passado, porém crescida, vai sentir, isso se ela ainda for recuperável. Questiono ainda se isso é possível ou utópico, se um dia vou ser substituída por uma outra versão de mim ou se esse processo é como o de um papel amassado que, mesmo reaberto, nunca volta a estar liso como antes. Consigo me sentir parcialmente aliviada quando traduzo em palavras escritas esses sentimentos, mas nunca tenho nenhuma garantia de que ele vai ser útil para mais alguém, especialmente a quem eu mais gostaria de poder me expressar sobre isso. Eu acho até que fugi do assunto principal, mas eu estava desesperadamente precisando desentulhar a mente. Nos últimos dias eu estava pensando em morte, naqueles dias abaixo do neutro, em que não existe em lugar algum essa pessoa que eu queria voltar a ser e que costuma ser minha única esperança e fonte de energia. Peço desculpas por isso a quem estiver aqui apenas pelo assunto principal e tenha se deparado com um texto sem “pé nem cabeça”. Vou tentar concluir com o que deveria ser o assunto do texto todo.
Em resumo, algo que me incomoda e que ainda é um pensamento comum é a noção de que, só por ser autista, a pessoa pensa de forma matemática e poderá somente exercer atividades que envolvam códigos e números. Ainda que não seja o ideal, já temos um aumento maior na quantidade de autistas que encontraram, na escrita, uma forma de expressão, que conseguiram acesso à comunicação alternativa. Já temos livros e páginas de autistas que não falam e dos que falam pouco, que seria mais o meu caso. O que eu mais vi nesses textos incríveis foi uma enorme sensibilidade que só poderia vir de alguém que passou a maior parte da vida em uma posição de observador e vive uma realidade interna que a maioria das pessoas nunca irá entender de verdade. Eu li poemas, visões de mundo, abstrações e ideias que nunca li de ninguém antes, de nenhuma pessoa dita como pertencente à norma. O que mais li foram textos que as pessoas gostam de dizer que são de humanas, e não uma tradução matemática do mundo. Eu digo que sou péssima em literatura e abstração por dificuldade de entender a dos outros. Isso não significa que eu não crie as minhas próprias abstrações, minhas próprias metáforas para traduzir a vida em arte, minha vida, minhas vivências. Há quem vá entender as metáforas cotidianas, as expressões populares, as intenções alheias, mas não vá entender as minhas próprias metáforas, expressões e intenções até que eu as ponha em um papel ou tela digital, ou quem, mesmo assim, não vá entender. Não somos robôs, não nos sentimos satisfeitos com a mera sobrevivência por nossa natureza humana. A natureza autista é uma variação da natureza humana. Queremos também viver e influenciar o mundo como qualquer outra pessoa. Nossos sentimentos são muito mais complexos do que meras imagens em desenho de alguém rindo, chorando, surpreso ou com raiva. Essas eu decorei vendo desenho. O que me interessa é a vida real, onde ninguém é em 2D e faz caras iguais as da cartelas de emoções básicas. É aí que acho difícil, assim como vão achar difícil entender porque eu comecei a rir ou chorar ou a ficar de mal humor de repente. Muitas vezes, nem eu sei o que está me incomodando. Muitas vezes, eu não sei o que estou fazendo com meus braços, rosto ou minha postura e depois vejo uma foto comigo ou olho no espelho e me acho com aparência esquisita. Muitas pessoas no geral também não sabem sempre o que as aflige, por que sentem um tal vazio. Não somos assim tão diferentes. Assim como você é único e complexo, eu também sou e nenhuma lista de site ou definição de um manual diagnóstico ou livro irá me definir bem, muito menos estereótipos. Observação e questionamento faz bem ao mundo e pode nos salvar dos pré conceitos.
Obrigada a quem leu e, mais ainda, a quem não leu,
Alice.